sexta-feira, junho 24, 2011

Saber amar


O que é esse tema tão polêmico? Saber amar é possível?
O psiquiatra argentino Jorge Bucay revela em seus estudos que a medida do amor é dada não pelo quanto estamos dipostos a nos sacrificar por alguém, mas o quanto estamos dispostos a desenvolver nossa autonomia.
Portanto a idéia de que quando escolhemos alguem temos que passar a sermos um só cai por terra, pois a maior riqueza de viver a dois é a possibilidade de abrir espaço para que ambos possam ser quem são.
Muitas pessoas, no entanto, acreditam que precisam renunciar a si memos para estar junto de alguém.
A verdade é que a base de uma relação está exatamente no quanto consigo ser eu mesmo quando estou ao lado de quem amo.
Jorge Bucay acredita que o amor é a disposição de trabalhar intensa e comprometidamente para a liberdade da outra pessoa. Para  que ela possa ser o que quer ser, e não o que gostaríamos que fosse.
oestadao.com.br
Esse mesmo especialista revela que a relação afetiva é o espelho que reflete quem somos, nossas qualidades e defeitos.
 Somos incapazes de nos enxergar por completo, para isso, durante nossa vida buscamos nos conhecer, através do outro (família, amigos, o ser amado).
 Mas nenhum espelho reflete como a pessoa amada, pois temos diante de nós, alguém que nos vê. Assim, podemos nos conhecer e nos aprimorar.
Partindo nessa perspectiva, quando acusamos o outro pelos seus defeitos, estamos muitas vezes negando nossos defeitos.
 Como não admitimos isso, achamos mais fácil apontá-lo fora, e não em nós.
As características que não temos não nos perturbam quando aparecem no parceiro. Só nos causa aborrecimento, o que revela uma parte renegada de nosso ser.
Sabe aquela história: vou mudar por sua causa. Desconfie!
Principalmente para as mulheres, no caso de se encantarem por um homem que diz: "Antes de te conhecer minha vida era um caos, vivia perdido no mundo, pulando de braços em braços, sem desfrutar nada. Agora com você, vivo no paraíso. Parece um sonho."
Apesar do discurso encantador, um sinal de que o parceiro pode ser um bom companheiro é quando ele diz: "Antes de te conhecer, minha vida era maravilhosa. Eu era tão feliz, vivia tão bem comigo mesmo, me curtia tanto. Agora com você estou ainda melhor."




A quem deseja se aprofundar no assunto buscar leitura no livro que inspirou o texto: Amar de Olhos Abertos (ed. Sextante)

quarta-feira, junho 15, 2011

Amor simbiótico






 Bert Hellinger descreve em sua teoria sobre constelações familiares, que o relacionamento de um casal é a vida em pleno desenvolvimento. Isto é, quando um casal se relaciona é como dar corda para o relógio da vida.
A consumação do amor tem um profundo efeito na alma. Através dela o homem e a mulher se viculam de forma indissolúvel.
Mas existem alguns aspectos que acabam se tornando doentios e com o tempo podem adoecer a relação de um casal.
Por exemplo: um casal simbiótico, unidos pelo sonho de união total entre os parceiros. Próprio daqueles que têm medo de se responsabilizar pela prórpia vida, de andar com as próprias pernas. De quem busca um colo, um esconderijo do seu medo da vida.
 A psicoterapeuta Maria de Melo ressalta em seus escritos que quem não confia em si tem pânico de ser abandonado.
Quem não tem pernas para se mover por conta própria é que tenta mobilizar o companheiro para garantir sua presença e passa a alimentar sentimentos de medo, raiva, inveja.
Por vezes o companheiro deseja se afastar a uma distância segura de seu parceiro apenas para procurar seu caminho, mas quem é inseguro ao extremo interpreta qualquer afastamento como abandono.
Uma relação simbiótica não oferece condições para que floresçam sentimentos bons como ternura, amor, companheirismo. Ela serve, ao contrário, para propiciar um ninho de ressentimentos, mágoas, inveja.

Conheço situações em que o casal deseja dominar os passos do outro de tal forma, que trocam seus telefones celulares para checarem as pessoas que ligam para o cônjuge.
É uma relação de muita cobrança, onde um não tem direito a nada fora do outro. A obrigação predomina! A obrigação de amar, de satisfazer.
O medo da infidelidade é o medo mascarado do abandono. É a máscara da falta de amor próprio.
É mais fácil ficar esperando que o outro nos ame, nos entenda, nos satisfaça, do que saber de nossas falhas, encarar nossos medos e nossa incapacidade de amar.

Difícil é encarar que viver como adulto significa ser o único responsável por aquilo que faz na vida. Culpar os outros é ficar esperando, na impotência, que façam algo, que mudem, que se transformem para nos atender - coisa que só dá certo com criança pequena.
Quando adultos, nossas transformações dependem unicamente de nós.

quinta-feira, junho 09, 2011

Há pessoas que nos roubam! Há pessoas que nos devolvem!


Lovee :*
ocoracaotambempensa.blogspot
Toda relação é um encontro de subjetividade. Como diz Martin Buber, ao estabelecer contato com uma pessoa, você e ela criam uma terceira pessoa. Porisso a questão a saber é em quem você se transforma quando está com esse outro alguém que escolheu para estar.
Nos encontros que realizamos, como é que fazemos para não perder de vista o que somos?
Ser o que somos requer cuidados.

O desafio é constante. O risco é iminente. É muito fácil perder a liga existencial, o cordão que nos costura a nós mesmos. É muito fácil a gente se perder na pluralidade do mundo. É muito fácil entrar nos cativeiros dos que nos idealizam, dos que nos esmagam, dos que nos desconsideram, dos que pensam que nos esmagam, dos que pensam que nos amam, dos que nos viviam, dos que penam por nós.

Ser aprisionado no pensamento que nos impede de crer no valor de nosso potencial.

Tudo depende da capacidade que o ser humano tem de manter-se na posse de si, mesmo quando tudo parece contrário.

Há prisões que não são concretas, e por isso não há nada que possa concretamente ser quebrado.  
Por exemplo, ao sentir medo que uma pessoa nos abandone estamos atribuindo a ela autoridade sobre nossas vidas. Estamos nos aprisionando a ela.

Muitas relaçoes amorosas são ligadas pelo medo eminente do abandono do parceiro. Isso nos impõe a um cativeiro afetivo: a incapacidade em dizer não.
Sendo assim ela mesma não quer abrir as portas do cativeiro, prefere reduzir a sua vida àquele espaço miserável que lhe  é oferecido.
Fragilizado, o ser humano fica vulnerável, e facilmente é roubado de si mesmo. Acrítico, passa a sorver a existência sem muito pensar sobre ela. Entra no movimento doce do mundo que o entretém em vez de desafiá-lo. O ser humano vai fazendo a entrega de si mesmo em pequenas partes.
A invasão é lenta. E o pior; é ato permitido. O nosso medo autoriza o invasor.
Cada pessoa é uma propriedade já entregue, isto é, dada a si mesma, mas ainda precisa ser conquistada. É como  se pudéssemos reconhecer: “Eu já sou meu, mas preciso me conquistar”, porque embora eu tenha a escritura nas mãos, ainda não conheci a propriedade que a escritura me assegura possuir.
Nós é o que sobra do encontro entre o eu e o tu. Isso nos desperta simpatias e antipatias. Gostamos mais de estar com uns que com outros. O que nos atrai no outro é a terceira pessoa que conseguimos fazer nascer com nosso encontro.
Relações saudáveis são relações que nos devolvem a nós mesmos, e o melhor: devolvem-nos melhorados.
thaisemoraes.blogspot
O amor não diminui, mas multiplica!
Inspirado em Quem Me Roubou de Mim, de Fábio de Melo.







sexta-feira, junho 03, 2011

De repente 30!


stravaganzastravaganza.blogspot.com

Antes dos 30 as coisas são diferentes. Claro que há algumas datas significativas, mas fazer 7, 14, 18 ou 21 é ir numa escalada montanha acima, enquanto fazer 30 anos é chegar no primeiro grande patamar de onde se pode mais agudamente descortinar.
Fazer 40, 50 ou 60 é um outro ritual, uma outra crônica, e um dia eu chego lá. Mas fazer 30 anos é mais que um rito de passagem, é um rito de iniciação, um ato realmente inaugural. Talvez haja quem faça 30 anos aos 25, outros aos 45, e alguns, nunca. Sei que tem gente que não fará jamais 30 anos. Não há como obrigá-los. Não sabem o que perdem os que não querem celebrar os 30 anos. Fazer 30 anos é coisa fina, é começar a provar do néctar dos deuses e descobrir que sabor tem a eternidade. O paladar, o tato, o olfato, a visão e todos os sentidos estão começando a tirar prazeres indizíveis das coisas. Fazer 30 anos, bem poderia dizer Clarice Lispector, é cair em área sagrada.
Até os 30, me dizia um amigo, a gente vai emitindo promissórias. A partir daí é hora de começar a pagar. Mas também se poderia dizer: até essa idade fez-se o aprendizado básico. Cumpriu-se o longo ciclo escolar, que parecia interminável, já se foi do primário ao doutorado. A profissão já deve ter sido escolhida. Já se teve a primeira mesa de trabalho, escritório ou negócio. Já se casou a primeira vez, já se teve o primeiro filho. A vida já se inaugurou em fraldas, fotos, festas, viagens, todo tipo de viagens, até das drogas já retornou quem tinha que retornar.
Quando alguém faz 30 anos, não creiam que seja uma coisa fácil. Não é simplesmente, como num jogo de amarelinha, pular da casa dos 29 para a dos 30 saltitantemente. Fazer 30 anos é cair numa epifania. Fazer 30 anos é como ir à Europa pela primeira vez. Fazer 30 anos é como o mineiro vê pela primeira vez o mar.
Na verdade, fazer 30 anos não é para qualquer um. Fazer 30 anos é, de repente, descobrir-se no tempo. Antes, vive-se no espaço. Viver no espaço é mais fácil e deslizante. É mais corporal e objetivo. Pode-se patinar e esquiar amplamente.
Mas fazer 30 anos é como sair do espaço e penetrar no tempo. E penetrar no tempo é mister de grande responsabilidade. É descobrir outra dimensão além dos dedos da mão. É como se algo mais denso se tivesse criado sob a couraça da casca. Algo, no entanto, mais tênue que uma membrana. Algo como um centro, às vezes móvel, é verdade, mas um centro de dor colorido. Algo mais que uma nebulosa, algo assim pulsante que se entreabrisse em sementes.
Aos 30 já se aprendeu os limites da ilha, já se sabe de onde sopram os tufões e, como o náufrago que se salva, é hora de se autocartografar. Já se sabe que um tempo em nós destila, que no tempo nos deslocamos, que no tempo a gente se dilui e se dilema. Fazer 30 anos é como uma pedra que já não precisa exibir preciosidade, porque já não cabe em preços. É como a ave que canta, não para se denunciar, senão para amanhecer.
Fazer 30 anos é passar da reta à curva. Fazer 30 anos é passar da quantidade à qualidade. Fazer 30 anos é passar do espaço ao tempo. É quando se operam maravilhas como a um cego em Jericó.
Fazer 30 anos é mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. Chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar.


O texto acima foi extraído do livro "A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 36.




O filho do outro é um presente

  Se você se relaciona com alguém que tem filhos saiba que tudo que esse filho traz junto com ele é, de algum forma, um tipo de aprendizado ...