terça-feira, novembro 29, 2011

Entenda a DEPENDÊNCIA AFETIVA



Todos conhecem a história: eles se conhecem e rapidamente se apaixonam. Vivem um período intenso em que aquele amor parece tudo e a sensação completude, eterna. As diferenças de comportamento e valores não importam, são detalhes frente a tanta sorte. Até que, com a passagem do tempo e o amadurecimento da relação, as diferenças começam a ficar mais acentuadas. A novidade já não é mais tão surpreendente assim, o frio na barriga se dissipa: chegou o cotidiano. E com ele aqueles "detalhes" que pareciam irrelevantes tomam um grande vulto.

Esse parece ser o caminhar de qualquer parceria afetiva iniciada com um belo encontro romântico, correto? Mas e os desfechos possíveis? Bom, são o motivo de inúmeras das mais lindas obras de arte, mas na prática são apenas dois: ficam juntos ou não. Se o casal aqui descrito for composto de duas pessoas adultas e relativamente saudáveis, espera-se que eles sejam capazes de fazer os ajustes necessários para que a relação perdure, negociando seus termos para que possam, ambos, viver de maneira satisfatória.

No entanto, se no casal houver um dependente afetivo, a chance de o final ser esse é bem menor. A dependência afetiva (ou Love Addiction em inglês) é caracterizada pela dependência em estar apaixonado. Sendo assim, é bem provável que o relacionamento acabe, pois o dependente afetivo não consegue estar vinculado ao outro de maneira menos intensa. Como ele sente que não consegue viver sem o outro, pode ficar patologicamente ciumento, ter oscilações de humor frente a ausências breves do companheiro e sente-se vazio quando o outro não está. Tal comportamento acaba gerando muitos desentendimentos, que, dependendo de sua intensidade, podem envolver agressões verbais e/ou físicas.

Todos nós fomos absolutamente dependentes de outro ser humano na primeira infância. Na maioria dos casos, das nossas mães. Elas foram absolutamente necessárias para alimentar-nos, limpar-nos e apresentar-nos ao mundo e às nossas próprias sensações através de sua presença tão importante. No entanto, na medida em que crescemos, elas nos encorajam a levar uma vida independente e nós nos alegramos com cada etapa vencida rumo à autonomia. O dependente afetivo, no entanto, parece ter ficado parcialmente enredado nessa etapa do desenvolvimento, e ainda espera que uma única pessoa satisfaça suas necessidades de afeto e completude, tal qual a mãe o fazia quando pequeno.

Anáclise é o nome técnico desta vinculação patológica entre duas pessoas adultas. Assim, o dependente afetivo pode viver a ausência da pessoa amada com uma reação muito intensa, como se fosse uma abstinência. Tal reação pode até ser violenta, dependendo do seu temperamento. Esta não é uma patologia descrita em manuais diagnósticos, mas podemos observá-la com alguma frequência em pacientes portadores de algumas patologias psiquiátricas, tais como os Transtornos de Personalidade Histriônica, Borderline, Dependente e também entre dependentes químicos. Em nossa cultura latina essa intensidade de afetos pode, para muitos, significar um grande amor. São muitos os homens que falam orgulhosos: "Minha mulher é ciumenta demais, me ligou trinta vezes ontem porque atrasei para chegar em casa". Muitas mulheres se envaidecem quando seus antigos parceiros as procuram em ocasiões impróprias e com insistência para retomar a relação fracassada. O controle que essas pessoas exercem sobre o outro pode ser mal traduzido como cuidado.

Por isso ouvimos falar tanto nesses desfechos trágicos de relações amorosas muito intensas. Entre tantos turbilhões fica difícil estabelecer diálogo para aparar as arestas, sempre presentes em qualquer relação humana. Não há espaço para meio-termo, para fala calma entre duas pessoas adultas que se querem bem. Sobram acusações, cada um culpando o outro pela morte daquela fase tão bela do encontro. Afinal, a paixão é um estado de espírito inconfundível e sinônimo de felicidade na nossa cultura ocidental. Lindo demais para acabar em tragédia.


Clínica Medicina do Comportamento - Site oficial da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

Texto da Dra. Ana Carolina Barcelos Cavalcante Vieira

Médica Psiquiatra - Universidade de Brasília

domingo, novembro 27, 2011

Você consegue ser simplesmente você?




"Até os 29, pensava que minha vida era agradar somente aos outros,
em vão não fui feliz. 
Agora, depois dos 30, decidi experimentar me agradar
e experimentar ser feliz..."











quarta-feira, novembro 23, 2011

Abandone a necessidade de ser reconhecido



A melhor forma de transformar o comportamento das crianças é elogiar tudo que elas fazem de bom e ignorar seu comportamento negativo. Sabe aquelas crianças e adolescentes mal criadas, ou que vivem com um sintoma ou outro de doença? Certamente o ego delas aprendeu que fazendo boas ações não recebiam reconhecimento, então começam a agir de forma impetulante, insistente, agressivos ou até mesmo ficando doentes gravemente porque assim o ego percebe que recebe atenção e reconhecimento.
Não é de propósito, isso acontece simplesmente por causa de um impulso inconsciente de sobrevivência do ego. Conheço pais que dizem a respeito dos próprios filhos “nossa, meu filho não tem jeito, ele é insuportável” ou ainda “você não sabe porque não está com ele todos os dias, só estou com o pai dele porque não daria conta sozinha”.  Imagine que estas crianças foram reforçadas em seu comportamento negativo e assim foram estruturando sua personalidade chamando atenção através do comportamento no qual era atendidas, ou seja, através do mal comportamento recebiam atenção, mesmo que seja uma atenção voltada para uma briga, um puxão de orelha ou uma surra.
Para o ego é melhor receber uma atenção negativa do que nenhuma atenção.

Mais tarde quando adultos, isso se torna uma prisão emocional, necessitamos de atenção e quando não a recebemos podemos compensá-la. É aí que entra a compulsão.
Por exemplo, uma pessoa que tem compusão alimentar, ou seja não consegue controlar seus impulsos alimentares, e por vezes através de uma sensação anterior, denomindada ansiedade, vai atrás de comida em busca de prazer, durante a satisfação deste prazer ela se sente aliviada, mas depois precisará de cada vez mais comida.
Mas porque esntão que essa pessoa não controla seus impulsos e come menos? Porque aí ela não sentiria alívio e prazer, tão almejado pela ansidedade de não ser reconhecida.
Uma pessoa que não tenha essa compulsão, irá sentir esse prazer sem o lado ruim da necessidade, sentindo-se saciada com uma pequena quantidade, que se for ultrapassada, poderá causar repulsa.

Para não mais depender da atenção e reconhecimento de outros (chefe, marido, filhos, pais e mães..) é preciso antes estabelecer um padrão de relacionamento sincero prioritário entre você e você mesmo. Esse relacionamento deve vir antes de todos os outros em ordem de importância, antes de pais, filhos, marido, em fim. 
Através deste realcionamento você poderá se perceber e manter um diálogo interno, distinguindo o que é meu e o que é do outro e abrindo a consciência para estar lúcido e perceber se me irrito com o outro, ou com algo que ele faz ou diz, ou se a irritação já estava dentro de mim, e eu uso o outro como desculpa para explicar a minha irritação.

Se algo que ele diz me irrita ou me deixa zangado, é porque se engancha em algo que está em mim. Se alguém disser : Acho que seu cabelo verde é ridículo, nem vou me importar porque não tenho cabelos verdes, mas, se a pessoa disser que estou gorda, ou qualquer outra coisa que me irrite, é porque esta colocação faz sentido para mim, é porque também penso isso de mim e não estou ok, em paz com isto.
O que o outro diz e me incomoda, na realidade só despertou um sentimento quanto a mim mesmo que já me incomodava, e que eu não tratei.
Se a pessoa foi rude, grosseira, insensível. Isto é problema dela, afinal, por que eu ficaria tão incomodada com o outro que é grosseiro? Ele tem todo o direito de falar o que quiser já que a boca é dele! Se ele fala algo grosseiro. É ele que é grosseiro. Se enganchou em mim, a solução é me analisar e conhecer meus ganchos.
 A melhor maneira para resolver esta relação é pensando no que acontece comigo e não naquilo que esta ruim com o outro. Afinal, só é possível mudar algo em mim, e é inutil ter a pretensão de modificar o outro.

 Bater na mesma tecla dizendo e redizendo sobre o que o outro tem que mudar é pura perda de tempo e não leva a nada. - Quando apontamos o dedo para o outro é mais útil olharmos primeiro para nós mesmos. Afinal, embora um dedo esteja apontado para frente, três outros dedos apontam para trás.

Quanto melhor for a relação que desenvolvo comigo mesmo mais sinto que existe dentro de mim algo que vale a pena e que posso confiar. Nessa relação de nós com a gente mesmo elevamos a autoestima, investimos em nós e desenvolvemos relacionamentos saudáveis em que pode haver dois. Portanto, antes de conviver com o outro precisamos poder conviver com a gente mesmo.
Quando há diálogo interno desenvolve-se uma captação maior de si mesmo e é possivel modular a percepção do outro e através da nossa percepção transformamos a do outro, influenciamo-la positiva ou negativamente.
Além do que, nossos conflitos externos nada mais são do que manifestações de nossos conflitos internos.
 Aquele que declara guerra ao outro, deixou de vencer a si mesmo e distinguir qual é conflito que vem das profundezas quando entra em conflito com o outro”. Afinal de contas o outro tem o direito de pensar diferente e agir diferente. Então, porque nos ofendemos tanto?
Caso contrário quando não há uma relação comigo, algo de essencial em mim deixa de existir então preciso desesperadamente do outro, se não houver o outro, só me resta ausência. É o perigo em entrar em uma relação – simbiotica. 
Posso separar o que é meu e o que é do outro. 
Certamente existem pessoas tóxicas e venenosas que podem nos fazer mal, no entanto, distinguir as razões que levaram tal pessoa a ser toxica para mim é bem mais útil do que simplesmente colocar toda a responsabilidade do meu mal estar no outro e ponto final.

sábado, novembro 19, 2011

Bipolaridade

Tudo tem alguma beleza, mas nem todos sao capazes de ver.


Minha bipolaridade não é doença, é escolha. Felicidade demais me enjoa, tristeza demais, hum, não preciso nem explicar. Ser chata faz parte, simpática é necessidade. Ou não, não passo o dia sem um surto de loucura. Tenho uma certa mania de dormir chorando de saudades. Irritante quebra o gelo, grossa impõe autoridade. Sendo infantil deixo de ser chata, sendo madura deixo de ser frágil.

 

sexta-feira, novembro 18, 2011

The life is short!!!

Existem duas razões para você não querer falar sobre um determinado assunto. Um: quando não significa nada. Dois: quando significa tudo.



"Eu estou vivendo uma coisa muito boa. Aquela coisa que a gente suspeita que nunca vai acontecer. Aconteceu.”



Caio Fernando Abreu





















 

segunda-feira, novembro 14, 2011

Des-Apego II



No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou: .........._ Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
.........._Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
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..........Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa. Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma.
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..........No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
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..........Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida. Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
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..........Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.

Martha Medeiros


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quinta-feira, novembro 10, 2011

Sobre mães e filhas - parte II



Pensando a trajetória da relação mãe e filha desde o nascimento da filha até o envelhecimento da mãe, podemos observar que a principio, na infância, a filha vê a mãe como uma musa, ela quer agradar e imitar a mãe em tudo: usa seus sapatos, sua maquiagem e roupas, assim como também, utiliza frases e atitudes que a mãe costuma usar.

 A mãe por sua vez, olha para a filha e vê nesta a realização de seus desejos: trunfos, beleza, inteligência, saúde, riquezas… Porém, o ser humano é um complexo de sentimentos, e por trás desses nobres desejos, escondem-se os maléficos, os temores de que a filha irá superar a mãe em graça, beleza, e sorte na vida.

Assim, como na obscuridade, a filha sente inveja dos poderes da mãe adulta e odeia ser dependente desta, ou teme não alcançar tantas conquistas quanto a sua mãe. Uma vez que, nem mãe nem filha entram em contato com estes sentimentos hostis, eles ficam contidos e reprimidos, e muitas vezes podem vir a tona, explodindo com força total, causando muito estrago no relacionamento, análogo a força das águas que estão presas e pressionadas pelo dique.

 Já na adolescência, o quadro muda de figura, a filha começa se rebelar não aceitando a dependência da mãe, e tudo o que era bonito na mãe, começa a se tornar feio, em geral, para diferenciar-se da criança que a filha era, quando chega à fase adolescente, ela quer ser o oposto de sua mãe e acha tudo o que a mãe diz, veste ou faz antiquado. Muitas mães conseguem passar tranquilamente por esta fase, caso possam resgatar a lembrança das adolescentes que elas mesmas foram.

Porém, assim como no conto de fadas da Branca de Neve, o desabrochar da filha é como um espelho no qual a mãe pode vislumbrar o seu próprio brochar. E na inconsciência a mãe culpa a filha pela perda de sua própria juventude.

Nesta fase, em geral ocorrem muitos desencontros entre as mães e suas filhas. Algumas mães começam a se vestir como adolescentes numa desesperada tentativa de agarrar a juventude, outras mães pegam, literalmente, no pé de suas filhas, controlando-as ao máximo, impedindo-as de serem elas mesmas, como uma forma de imprimir-se na identidade da filha jovem, outras gritam e brigam pelas mínimas razões com as filhas chamando-as de ingratas, preguiçosas, namoradeiras e encontram defeitos em tudo o que as filhas fazem, retaliando-as, inconscientemente, por todo o mal que, na fantasia, esta lhe causa quando cresce.
Porém, aquelas mães que conseguem entrar em contato com a realidade psíquica – mundo interno (subjetiva) e do mundo externo (objetiva) que suas filhas não são as responsáveis por seu envelhecimento, que na adolescência faz parte a tentativa de ser o oposto daquilo que a mãe é, que ela não possui a tarefa de realizar os sonhos e expectativas de sua mãe, que aquilo que cai bem na filha provavelmente pode ficar ridículo para a mãe,
que cada uma vive as suas fases durante a vida, e que a mãe já viveu a sua adolescência e agora é a vez da filha.

Somente o contato com esta realidade interna e externa indicará o caminho pelo qual a mãe poderá encontrar os prazeres próprios da fase da vida em que vive, e principalmente poderá obter muito mais encontros do que desencontros com a filha.

Nesta etapa a adolescente quer ser escutada e levada a sério. Se a mãe puder ouvi-la, buscando legitimar seus sentimentos, muito provavelmente encontrará na filha uma escuta atenta, e as duas poderão se encontrar, exatamente dos lugares que ocupam: mãe com suas funções e filha com as suas funções. A fase adulta da filha, assim como o casamento desta e a possibilidade da mãe tornar-se avó, provavelmente nenhuma dessas etapas tão marcantes da vida passam sem desencontros, frustrações, mágoas ou ressentimentos, mas quanto mais cada qual, mãe e filha puderem observar todo evento por diferentes prismas, buscar compreender as razões que levaram cada qual a agir desta ou daquela maneira, isto é, não ficarem presas na ocorrência frustrante, e sim ver o que há por trás, ou seja, o que pode ter levado a outra a agir desta ou daquela maneira, e principalmente, não atrelarem-se aos próprios desejos e expectativas, mãe e filha poderão compartilhar muito mais as alegrias inerentes às mudanças e transformações que desencadeiam a novas etapas.

Cabe salientar que uma “boa mãe” só existe no imaginário de uma sociedade familiar idealizada, há relações mãe-filha que permitem superar suas dificuldades, enfrentando a prova do tempo e das relações, que, inevitavelmente se modificam.
O nascer de uma filha significa uma relação passível de ser eterna enquanto vivas, pois quando nasce um menino, muitas mães sentem, e não sem razão, que este homenzinho é dela até que encontre outra mulher e se case, então, a mãe será substituída, mas a filha poderá ser sua filha para sempre.
Léa Michaan,
Psicoterapeuta e Psicanalista

domingo, novembro 06, 2011

Sobre mães e filhas - parte I



Várias são as mulheres que se questionam se devem ou não tornarem-se mães. Eu como não sei a resposta, fico aqui com a função de sempre: questionar!
 Mas quero especificamente falar hoje de algo que me assombra, não tanto como no passado, visto que tenho anos trabalhado para melhorar algo que faz parte de minha história pessoal. Algo no qual luto todos os dias..
 mas como definiria esse assunto?
Problemas entre mãe e filha?
 Mas não seria apenas isso.
Trata-se de uma mãe que descontou seus problemas na filha?
Não sei! Hoje, aos 30 anos desisti de entender minha mãe!
Resolvi apenas me entender e me aceitar com toda minha história, tendo ou não uma mãe que me aceitasse. Aliás, hoje isso nem importa tanto mais.
Isso é apenas o pano de fundo, dito isto gostaria de apontar algumas questões à respeito...


Na relação mãe-filha é comum haver uma mistura de identidades, na qual uma compensa as faltas da outra. Por exemplo, se a mãe é infantil, a filha tende a ser mais madura, se a mãe é irresponsável, a filha tende a se ocupar das responsabilidades que cabem a esta mãe, se a mãe não teve, por sua vez, uma mãe suficientemente boa, ela apresentará muita dificuldade em dar a filha àquilo que não recebeu, e nestes casos há uma questão transgeracional, pois esta filha também ficará privada desta experiência e por sua vez também não terá de onde resgatar e proporcionar a sua filha, etc.
Muitas vezes, na relação com a própria filha, a mãe tenta compensar a relação mãe e filha que gostaria de ter e não teve, e a filha se sentirá encarregada de ser uma mãe para a própria mãe e começará a cuidar da mãe: lembrando-a dos compromissos, responsabilidades, ajudando com a casa, com os irmãos e dando conselhos. Outras vezes, a mãe frustrou-se demasiado com a sua própria mãe, e sem perceber, inconscientemente, faz com que a filha pague esta conta, não encontrando em si possibilidade de ser uma mãe presente, interessada e que respeita a individualidade da filha. Isto pode acontecer por um sentimento de inveja ou vingança inconsciente, pois lhe dói ver a filha receber algo que ela não recebeu. Esta dor a impedirá de proporcionar cuidados à filha, a qual se sentirá abandonada. Nestas ocasiões, também pode acontecer o oposto, uma vez que a mãe não recebeu aquilo que lhe parecia justo, então para não repetir o erro de sua mãe, ou para se recompensar da relação de intimidade entre mãe e filha que não viveu, cobrirá a filha de atenção transformando esta filha no objeto de interesse principal de sua vida. Nestes casos, além de sufocar a filha, um dia, esta mãe cobrará caro por tanta dedicação e a filha poderá sentir que possui uma dívida impagável com a sua mãe. A única maneira de cortar qualquer um desses ciclos viciosos entre mãe e filha é obtendo consciência da força motriz que movimenta esta relação tão delicada.
Desde a gravidez começam as projeções repletas de sonhos, expectativas, fantasias e desejos sobre a bebezinha que ainda nem chegou ao mundo, e assim, quando a filha nasce, ela já chega carregada de projetos e incumbências. Portanto as mães que estão tendo contato com este conhecimento, saibam que ter consciência disso já é o primeiro passo para aliviar a carga repleta de sonhos maternos dos ombros de suas filhas. Mesmo que a sua filha já esteja bem grandinha, seja até casada, ou até já possua seus próprios filhos, este saber pode fazer toda a diferença para resgatar a boa relação com a sua filha, ou melhora-la ainda mais. Aceitá-la como ela é, olhar para a filha sem expectativas, significa poder amá-la mesmo que seja bem diferente dos sonhos e desejos que projetamos nela. O mesmo vale para as filhas que carregam as suas mães dos desejos que esperam receber desta

quinta-feira, novembro 03, 2011

Só sei ser eu mesma


loseyourcontroll.blogspot.com

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das ideias
 mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais
 fortes... tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
 Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
 Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração.
Não me façam ser quem eu não sou.
Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente.
 Não sei amar pela metade.
Não sei viver de mentira.
 Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesmo, mas com certeza não serei o mesmo para sempre."

Clarice Lispector

quarta-feira, novembro 02, 2011

Promessas de Casamento



"Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento a igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre. "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?" Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:

- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?
Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros."

     Texto de Martha Medeiros

O filho do outro é um presente

  Se você se relaciona com alguém que tem filhos saiba que tudo que esse filho traz junto com ele é, de algum forma, um tipo de aprendizado ...