domingo, outubro 30, 2011

O Prazer de resolver problemas

Seguir ordens é um processo penoso, pois, na maioria das vezes, representa negar nossas necessidades pessoais. Abrir mão do desejo natural de explorar o desconhecido e saber aguardar o momento justo para agir é um desafio constante que teremos que adquirir ao longo de toda nossa vida.
Quando as crianças observam os adultos tendo prazer em resolver problemas, aprendem e experimentam o mesmo prazer ao tentar resolver seus próprios problemas. Se tivermos crescido num ambiente seguro e que, ao mesmo tempo, nos encorajou para seguirmos adiante com nossas iniciativas e riscos pessoais, quando adultos seremos autônomos e, ao mesmo tempo, respeitaremos nossas necessidades naturais de dependência e proteção. Mas, se tivermos sido constantemente desencorajados a explorar o mundo à nossa volta, vamos crescer crendo que somos incapazes e que agir não leva a nada. A dor de ter nossas emoções e necessidades ignoradas ou distorcidas gera uma sensação profunda de inadequação.

Aos cinco anos de idade, já desenvolvemos uma noção clara do que podemos ou não fazer. Deixamos de agir erroneamente mesmo quando estamos a sós. Se nossos pais foram extremamente controladores, teremos facilmente a sensação de culpa e vergonha quando agirmos por conta própria, à revelia de seus comandos.

Quando crescemos, este sentimento já estará tão arraigado em nós que nem sabemos mais porque o sentimos. A questão é que quando ele se torna demasiado, perdemos tanto o desejo como o prazer de exercitar a nossa própria vontade!

Para superar esse bloqueio criativo, temos que cultivar uma nova postura interior, na qual nos vemos como criadores de nosso próprio curso de vida. Desta forma, será prazeroso nos estimularmos a assumir tanto os riscos como as suas consequências.

Para recuperar a alegria de conquistar uma nova habilidade, temos que nos conscientizar, repetidas vezes, de que não somos mais reféns do controle externo como fomos um dia.
Quando nos sintonizamos com a autorresponsabilidade e o autodomínio, somos capazes de aprender a ver os problemas não como problemas, mas como oportunidades de crescimento interior.

Lama Zopa, em seu livro Transformando problemas em felicidade (Ed. Mauad) nos esclarece que precisamos ter constantemente duas atitudes internas: 1. cultivar uma mente que não tem aversão aos problemas e 2. gerar uma mente que sente prazer em resolvê-los.

Para tanto, temos que evitar exageros. Encarar os grandes problemas passo a passo é uma forma de sermos gentis com nossos limites e incertezas. Intuitivamente, sabemos que não adianta ficarmos inquietos, com raiva ou deprimidos.

Lama Gangchen nos aconselha a substituirmos a palavra problemas por pequenas dificuldades.

Na realidade, gostamos de arranjar pequenos problemas para resolver! Pois a sensação de controlá-los mantém nosso cérebro saudável e equilibrado. Enquanto uma área do cérebro registra a chance de erro e aciona outra área que nos deixa acordados e atentos, outra área analisa a situação e traça estratégias que, por sua vez, ativa o sistema de recompensa, deixando-nos motivados e animados com o desafio.

Na medida em que resgatamos o prazer de solucionar problemas, recuperamos o prazer de viver. Afinal, problemas existem e sempre existirão!


Texto de Bel Cesar




segunda-feira, outubro 24, 2011

O que queremos da vida?



Todos nós já nascemos com tudo o que precisamos. Ao longo da vida, fatores externos acabam nos esmagando tentando dizer o quanto não somos bons o suficiente para conseguir realizar o que desejamos.


Por vários motivos, acabamos seguindo passos que na verdade não fomos nós que almejamos, e sim, os outros, pode ser a própria mãe, marido, amigos, filhos, em fim..
Para sermos aceito criamos condições de vida condizentes para manter tudo em uma certa ordem, não decepcionando ninguém...

Mas quem foi que disse que a ordem é o que o seu coração quer.

Existe um estado de alegria pura que ocorre quando você luta para ser quem você é, e faz aquilo que acredita ser o melhor para você,  te deixando no eixo.
Quando não fazemos o que desejamos, permanece um buraco dentro de nós, onde instalam-se depressões, crises de ansiedade, pânico,  insônia, etc.
Porisso analise agora o que é que mais está te afetando, impedindo você de seguir seu destino. Identifique o que é que te empoeira e te faz entristecer.

Sabe afinal o que mais queremos em nossas vidas? O que mais lutamos para conseguir?
O direito de poder sermos nós mesmos!

sábado, outubro 15, 2011

Tenho amigos para saber quem sou



Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.


Oscar Wilde

Queridos Amigos

terça-feira, outubro 11, 2011

Ser Criança



As crianças são basicamente seres emocionais. Começam a compreender o mundo que as cerca através das emoções. Da mesma forma que ainda no útero o estado emocional da mãe afeta diretamente o bebê, quando nasce a criança sente todas as emoções, expressas e veladas, de seus pais. Algumas teorias acreditam que até os 7 anos, a criança exprime o que a mãe sente, enquanto que dos 7 aos 14 anos ela representa as emoções paternas.

Isso pode significar que alguma emoção enclausurada dos pais serão manifestadas através do processo psicossomático da criança. Gripes, febres, dermatoses, dores abdominais, otites, rinites, pânico, medo, em fim ...
As crianças são os verdadeiros psicólogos da casa. Quando algo não vai bem com a família, ela consegue filtrar como se fosse uma esponja, toda atmosfera de seu meio.
Os pais dificilmente entendem isso, e acabam culpando as crianças.
Sabe quantos nãos uma criança escuta em média, por dia?
Cerca de 1000. E aprende com isso como o mundo é hostil. Onde não se pode sonhar, criar, inventar. Tudo tem que ser padronizado.
Não pode tomar sorvete quando está resfriado, nào pode pé no chão, brincar na terra, pular na chuva, fazer psicina de sabão, estudar e tirar notas boas não passam de obrigação.
Acabamos criando futuros seres humanos engessados, que aprendem a não acreditar nos sonhos!

domingo, outubro 09, 2011

DesApego

meioconfidencial.blogspot

O mundo, a família, os amigos, os mais chegados ou não, dizem- porque também assim ouviram- que devemos ficar mais ativos, cabreiros, com os pés bem atrás, ser trouxa nunca, ser esperto sempre, sem maldade jamais.
Quando você se torna um bom aluno dessa escola: Não vem de garfo que hoje é dia de sopa; você recebe o diploma de ADULTO, crescido, maduro, vivido. Então, para alguns, pode acontecer de que a própria vida nos leve para outros caminhos, de outros mundos, de outros valores, de outras propostas, com uma orquestração totalmente voltada para a eternidade, para a essência espiritual, para um DES- envolvimento.
 Aí vem a entrega/desapego. DES- aprender é muito mais difícil do que aprender. Uma vida de descoberta interna, uma rota de busca interior profunda requer entrega/desapego. Uma simples massagem requer entrega, soltar os músculos. Um abraço precisa disso...Uma sessão de terapia sem entrega se torna conversa fiada. O trabalho de des-construção é muito árduo. Por isso, para entrar profundamente no trabalho de descoberta do si mesmo mais profundo é necessário a desconstrução (com carinho e delicadeza, com orientação de preferência). Essa des-construção nos dá uma sensação interna de morte, pois o que foi construído o foi por sobrevivência e deu trabalho, colocamos energia nisso.
E a dor advinda é ainda o apego, o pé atrás. Uma das benesses que a vida nos colocou para nos ajudar nesses momentos, além de outras, é a terapia com florais. Me vem duas essências californianas: Crysanthemun e Angels Trumpet que vão estar alinhadas com essa proposta da entrega, do des-apego. Não existe um método pronto para entregar, para desapegar...A própria onda inédita da vida, única, eterna, carregada de continuidade sem travamento nos conduz a esse estado ou não...
Essas essências ajudam muito quando tomadas um bom tempo, num contexto de um trabalho intencionado para isso. A entrega é necessária no amor, na arte, no trabalho, no contato contigo mesmo, com a natureza...
E o desapego, como dizem os adolescentes de hoje, é saber que a fila anda, que a vida é dinâmica e ela tem um rítmo, apesar dela respeitar profundamente o nosso, mesmo estando muitas vezes desvinculados do dela, que é mais recomendável...Nessa nova proposta não precisamos ser bobos, nem imbecis, porém também não precisamos ficar de tocaia, des-confiando da nossa luz, da nossa origem, do nosso destino...Para ilustrar essa reflexão, ofereço um pequeno conto russo, que extraí do livro:
Histórias para acordar da Diléa Frate...Sugiro ir desarmando, baixando a guarda, respirando leve e profundo, lendo o conto com um fundo musical lindo onde Mercedes Sosa canta: Volver a sentir profundo como un niño frente a Dios.
Era uma vez uma floquinha de neve que vivia no alto de uma montanha gelada. Um dia, apaixonou-se perdidamente pelo sol. E passou a flertar descaradamente com ele. -Cuidado!!!, alertaram os flocos mais experientes: Você pode derreter. Mas a floquinha não queria nem saber e continuava a olhar para o sol, que com seus raios a queimava de amor. Ela nem percebia o quanto se derretia...Ficou ali ainda um bom tempo, só se derretendo, se derretendo. Quando viu, era uma gotinha, uma pequena lágrima de amor descendo, com nobreza e delicadeza, a montanha. Lá embaixo, um rio esperava por ela.



 "Escritos de alma para alma" no www.hercolesjaci.wordpress.com


Hércoles Jaci é Psicólogo clínico e Organizacional; formado em 1980. Doutor Honoris-Causa em Ciências da Saúde pela Unimec International e OMS-Organizção Mundial da Saúde. Mestrado em Gestão de Pessoas, Subjetividade e Análise do Discurso. Formação em terapia de família e de casais. Formação em psicoterapia sistêmica e expressão/soltura corporal. Um dos precursores da Terapia com florais no Brasil. Trabalha como psicoterapeuta, consultor e palestrante. A entrega tem sido um grande desafio como pessoa em des-envolvimento. A fé, a conexão, a generosidade e a alegria: grandes aliadas.

domingo, outubro 02, 2011

Geração descartável


O que acontece comigo é que não consigo andar pelo mundo pegando coisas e trocando-as pelo modelo seguinte só por que alguém adicionou uma nova função ou a diminuiu um pouco…

Não faz muito, com minha mulher, lavávamos as fraldas dos filhos, pendurávamos na corda junto com outras roupinhas, passávamos, dobrávamos e as preparávamos para que voltassem a serem sujadas. 
E eles, nossos nenês, apenas cresceram e tiveram seus próprios filhos e se encarregaram de atirar tudo fora, incluindo as fraldas. Se entregaram, inescrupulosamente, às descartáveis!
Sim, já sei. À nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem os defeituosos conseguíamos descartar! E, assim, andamos pelas ruas, guardando o muco no lenço de tecido, de bolso.
Nããão! Eu não digo que isto era melhor. O que digo é que, em algum momento, me distraí, caí do mundo e, agora, não sei por onde se volta.
O mais provável é que o de agora esteja bem, isto não discuto. O que acontece é que não consigo trocar os instrumentos musicais uma vez por ano, o celular a cada três meses ou o monitor do computador por todas as novidades.
Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de látex que eram para usar uma só vez.
Os talheres de plástico convivem com os de aço inoxidável na gaveta dos talheres! É que venho de um tempo em que as coisas eram compradas para toda a vida!
E mais! Se compravam para a vida dos que vinham depois! A gente herdava relógios de parede, jogos de copas, vasilhas e até bacias de louça.
E acontece que em nosso, nem tão longo matrimônio, tivemos mais cozinhas do que as que haviam em todo o bairro em minha infância, e trocamos de refrigerador três vezes.

Nos estão incomodando! Eu descobri! Fazem de propósito! Tudo se lasca, se gasta, se oxida, se quebra ou se consome em pouco tempo para que possamos trocar.
Nada se arruma. O obsoleto é de fábrica.

Aonde estão os sapateiros fazendo meia-solas dos tênis Nike? Alguém viu algum colchoeiro encordoando colchões, casa por casa? Quem arruma as facas elétricas? o afiador ou o eletricista? Haverá teflon para os funileiros ou assentos de aviões para os talabarteiros?
Tudo se joga fora, tudo se descarta e, entretanto, produzimos mais e mais e mais lixo. Outro dia, li que se produziu mais lixo nos últimos 40 anos que em toda a história da humanidade.

Quem tem menos de 30 anos não vai acreditar: quando eu era pequeno, pela minha casa não passava o caminhão que recolhe o lixo! Eu juro! E tenho menos de ... anos! Todos os descartáveis eram orgânicos e iam parar no galinheiro, aos patos ou aos coelhos (e não estou falando do século XVII). Não existia o plástico, nem o nylon. A borracha só víamos nas rodas dos autos e, as que não estavam rodando, as queimávamos na Festa de São João. Os poucos descartáveis que não eram comidos pelos animais, serviam de adubo ou se queimava...

Desse tempo venho eu.  E não que tenha sido melhor.... É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com "guarde e guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa", mudar para o "compre e jogue fora que já vem um novo modelo".

Troca-se de carro a cada 3 anos, no máximo, por que, caso contrário, és um pobretão. Ainda que o carro que tenhas esteja em bom estado... E precisamos viver endividados, eternamente, para pagar o novo!!! Mas... pelo amor de Deus!

Minha cabeça não resiste tanto. Agora, meus parentes e os filhos de meus amigos não só trocam de celular uma vez por semana, como, além disto, trocam o número, o endereço eletrônico e, até, o endereço real.

E a mim que me prepararam para viver com o mesmo número, a mesma mulher e o mesmo nome (e vá que era um nome para trocar). Me educaram para guardar tudo. Tuuuudo! O que servia e o que não servia. Por que, algum dia, as coisas poderiam voltar a servir.


Acreditávamos em tudo. Sim, já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã de guardar (por que éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de infância e não sei como não guardamos o primeiro cocô.

Como querem que entenda a essa gente que se descarta de seu celular a poucos meses de o comprar? Será que quando as coisas são conseguidas tão facilmente, não se valorizam e se tornam descartáveis com a mesma facilidade com que foram conseguidas?
Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira gaveta era para as toalhas de mesa e os panos de prato, a segunda para os talheres e a terceira e a quarta para tudo o que não fosse toalha ou talheres. E guardávamos...

Como guardávamos!! Tuuuudo!!! Guardávamos as tampinhas dos refrescos!! Como, para quê?  Fazíamos limpadores de calçadas, para colocar diante da porta para tirar o barro. Dobradas e enganchadas numa corda, se tornavam cortinas para os bares. Ao fim das aulas, lhes tirávamos a cortiça, as martelávamos e as pregávamos em uma tabuinha para fazer instrumentos para a festa de fim de ano da escola.
Tuuudo guardávamos! Enquanto o mundo espremia o cérebro para inventar acendedores descartáveis ao término de seu tempo, inventávamos a recarga para acendedores descartáveis. E as Gillette até partidas ao meio se transformavam em apontadores por todo o tempo escolar. E nossas gavetas guardavam as chavezinhas das latas de sardinhas ou de corned-beef, na possibilidade de que alguma lata viesse sem sua chave.
E as pilhas! As pilhas das primeiras Spica passavam do congelador ao telhado da casa. Por que não sabíamos bem se se devia dar calor ou frio para que durassem um pouco mais. Não nos resignávamos que terminasse sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse menos que um jasmim. As coisas não eram descartáveis. Eram guardáveis.
Os jornais!!! Serviam para tudo: para servir de forro para as botas de borracha, para por no piso nos dias de chuva e por sobre todas as coisas para enrolar.
Às vezes sabíamos alguma notícia lendo o jornal tirado de um pedaço de carne!!! E guardávamos o papel de alumínio dos chocolates e dos cigarros para fazer guias de enfeites de natal, e as páginas dos almanaques para fazer quadros, e os conta-gotas dos remédios para algum medicamento que não o trouxesse, e os fósforos usados por que podíamos acender uma boca de fogão (Volcán era a marca de um fogão que funcionava com gás de querosene) desde outra que estivesse acesa, e as caixas de sapatos se transformavam nos primeiros álbuns de fotos e os baralhos se reutilizavam, mesmo que faltasse alguma carta, com a inscrição a mão em um valete de espada que dizia "esta é um 4 de paus".

As gavetas guardavam pedaços esquerdos de prendedores de roupa e o ganchinho de metal. Ao tempo esperavam somente pedaços direitos que esperavam a sua outra metade, para voltar outra vez a ser um prendedor completo.
Eu sei o que nos acontecia: nos custava muito declarar a morte de nossos objetos. Assim como hoje as novas gerações decidem matá-los tão-logo aparentem deixar de ser úteis, aqueles tempos eram de não se declarar nada morto: nem a Walt Disney!!!
E quando nos venderam sorvetes em copinhos, cuja tampa se convertia em base, e nos disseram: Comam o sorvete e depois joguem o copinho fora, nós dizíamos que sim, mas, imagina que a tirávamos fora!!! As colocávamos a viver na estante dos copos e das taças. As latas de ervilhas e de pêssegos se transformavam em vasos e até telefones. As primeiras garrafas de plástico se transformaram em enfeites de duvidosa beleza. As caixas de ovos se converteram em depósitos de aquarelas, as tampas de garrafões em cinzeiros, as primeiras latas de cerveja em porta-lápis e as cortiças esperaram encontrar-se com uma garrafa. 

E me mordo para não fazer um paralelo entre os valores que se descartam e os que preservávamos. Ah!!! Não vou fazer!!!
Morro por dizer que hoje não só os eletrodomésticos são descartáveis; também o matrimônio e até a amizade são descartáveis. Mas não cometerei a imprudência de comparar objetos com pessoas.
Me mordo para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória coletiva que se vai descartando, do passado efêmero. Não vou fazer.
Não vou misturar os temas, não vou dizer que ao eterno tornaram caduco e ao caduco fizeram eterno.
Não vou dizer que aos velhos se declara a morte apenas começam a falhar em suas funções, que aos cônjuges se trocam por modelos mais novos, que as pessoas a que lhes falta alguma função se discrimina o que se valoriza aos mais bonitos, com brilhos, com brilhantina no cabelo e glamour.
Esta só é uma crônica que fala de fraldas e de celulares. Do contrário, se misturariam as coisas, teria que pensar seriamente em entregar à bruxa, como parte do pagamento de uma senhora com menos quilômetros e alguma função nova. Mas, como sou lento para transitar este mundo da reposição e corro o risco de que a bruxa me ganhe a mão e seja eu o entregue... 




 

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O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.
Martin Luther King

O filho do outro é um presente

  Se você se relaciona com alguém que tem filhos saiba que tudo que esse filho traz junto com ele é, de algum forma, um tipo de aprendizado ...